Como se estivesse chorando,
As plantas foram murchando.
Tudo ali ficou muito triste
Amigo, é verdade, acredite.
Antes dela sair, o gato “Dinho”,
Tinha ido caçar pelo caminho,
Bichinho que ela sempre cuidava
Sem dúvida, também a amava.
Voltou feliz trazendo pra ela
Uma ave, não grande, amarela;
Realmente, uma caça pequena,
Mas, que agradaria a morena.
Ele, nunca mais ganhou carinho,
Ficou tão triste, o bichaninho.
A dor que ele sente tá presente,
Todos têm dó daquele inocente.
Faz cortar qualquer coração,
Aquele animal de estimação.
Pra todas pessoas que vão lá
Faz cenas mesmo de arrepiar.
Quem assiste fica emocionado
Volta chorando, peito apertado.
Magro, abatido, o pobre gato;
De dia, escondido num quarto:
Lamenta, se maldiz e chora;
Fica gemendo, mia toda hora;
Não bebe, também não dorme.
Coitado... oh gato que sofre!
Mas, ele tá tão desesperado:
Luta pra comer, fica engasgado;
À noite, ninguém dorme, não
Ouvindo seu choro na escuridão.
Sai pro terreiro, faz ronda;
Volta soluçando, sem a dona;
Querendo saber do acontecido,
Pois, na hora ele havia saído.
O rapaz virou poeta revoltado
Até hoje, ele só tem lamentado;
Descreve felicidade, juventude
Roga a Deus que à filha ajude.
Deve ser moça, sem o pai ao lado
Provavelmente é tudo complicado.
Ela não pediu pra vir ao mundo,
Ele é atormentado a cada segundo.
Já que é pai e amor não deu
Vive e, muitas vezes já morreu.
Sem dúvida, a culpa lhe condena,
Por ter feito sofrer, a morena.
Sofre, ele próprio se condenou,
Sua pena, ele mesmo sentenciou;
Sem ver a sua própria filha;
Por não assumir uma família.
Hoje, tem consciência do horror,
Do pecado que ele praticou.
Ele nem sabe se ela tá viva,
Se tá bem ou vive à deriva.
Sofrimento foi o que lhe restou,
Pagando pelo que ele praticou.
Nem precisa ninguém condenar,
Porque ele já vive seu penar.
De todo lado só vem castigo:
Vive sem endereço, sem abrigo;
Sem ter dinheiro no bolso,
Mergulhado mesmo num poço.
Já recebeu muitas balroadas
Vive com a vida enrolada.
Diz que, se pudesse voltar atrás,
A ninguém prejudicaria mais.
“A culpa não deixa eu ser feliz!”
Pensativo, ao povo, assimele diz.
Hoje, é culto e sentimental;
Gosta da paz, é inimigo do mal.
Agora, tem uma visão diferente,
Não é mais pobre, a sua mente.
Depois daquilo, vive a escrever,
Agora, um outro mundo ele vê.
Tem muito medo de morrer
Sem antes a sua filha ver;
Pensa em vê-la, uma visita fazer;
Desiste, não ver este merecer.
Os livros que ele já escreveu
Falam dos sentimentos seus,
Além das obras pras crianças
Nas quais só fala em bonança.
Espera que a filha esteja moça,
Com saúde e que Deus te ouça.
À ninguém na vida reclama
Apenas, sozinho ele lamenta.
Pensa em procurar sua filha,
Pensa muito em conhecê-la.
Mas é assim, tão complicado
Doente, por não ter lhe criado.
Por ele nunca ter cumprido
Os deveres de honesto pai,
Assim, o direito de abraçá-la
Pensa que ele não tem mais.
Tem dúvida, se ela te ama,
Pois, nunca viu ele te amar.
Desprezado, talvez mais que ela
Observa o horizonte duma cela.
Sem esquecer, reza todo dia
Pra morena e pra moreninha.
Vive sem ter um rumo certo
O seu mundo ficou deserto.
Se algum dia, por acaso,
Nas voltas do mundo o ver
Não maltrate ele, mais, não!
Pois, já é grande seu sofrer.
Fim.
Autoria de:Valdir de Deus Silva
Postado em: 00 de agosto de 20